Aurízio Freitas
Marketing Político: ferramenta eleitoral #entrevistajornal
Atualizado: 7 de mai. de 2022
O Marketing Político é, hoje, tido como instrumento essencial numa campanha eleitoral. Há os que defendem que, sem a contratação de um bom “marketeiro”, não existem possibilidades de ganhar uma eleição. Como estamos ás vésperas de um pleito, o jornal O Estado conversou com o consultor político e diretor da ABCOP (Associação Brasileira de Consultores Políticos no Estado do Ceará), Aurízio Freitas, para promover um maior entendimento sobre as ferramentas, teorias e práticas que permeiam esta atividade profissional.
O consultor alertou para a importância do planejamento e de uma análise prévia da conjuntura política para que se tracem boas estratégias para o candidato. “Quanto maior a antecedência do planejamento, maior a possibilidade de se construir uma campanha eficaz, racionalizada e profissional”, salientou.
O Estado - Neste contexto de início de campanhas eleitorais, qual o papel do profissional de marketing político?
Aurízio Freitas - Nesta reta final de “pré-campanha” o profissional de marketing político ou consultor político inicia com a equipe do candidato o planejamento e a organização da campanha, do que acontecerá após o registro da candidatura em termos de ações de comunicação e de mobilização. Quanto maior a antecedência do planejamento, maior a possibilidade de se construir uma campanha eficaz, racionalizada, profissional.
OE - Quais são as técnicas e ferramentas que envolvem o trabalho de um profissional dessa área?
AF – Um amplo leque tanto de técnicas como de ferramentas. Em primeiro lugar os diversos tipos de pesquisa de opinião pública, junto com as técnicas de comunicação pessoal e de construção de imagem, o planejamento da campanha, a definição e supervisão de conteúdo para as diversas mídias tais como rádio, TV, internet, impressos e mídias alternativas. Além destas técnicas relacionadas à pesquisa, gestão e comunicação, o profissional de marketing, também chamado consultor político, utiliza técnicas de consultoria como reuniões periódicas, treinamentos, relatórios e análises, que lhe garantem uma atuação como observador externo, neutro e imparcial. O papel do consultor em nenhum momento pode ser confundido com o de coordenador da campanha. Sua atuação é técnica e independente.
OE - Como o senhor avalia o mercado brasileiro destinado às eleições políticas?
AF – É um mercado emergente e em expansão. Inclusive, os profissionais de marketing político do Brasil hoje se destacam no mundo e são requisitados em todos os continentes. 20 anos atrás, quando foi instituída a ABCOP-Associação Brasileira de Consultores Políticos, alguns pioneiros do Marketing Político no Brasil como os grandes mestres Carlos Manhanelli, Gaudêncio Torquato e Tadeu Comerlatto desbravaram uma verdadeira “mata virgem”. Hoje o marketing político está cada vez mais consolidado e há escassez de bons profissionais para atender ao volume de demanda das campanhas. Só na última campanha municipal, em 2008, foram cerca de 380 mil candidatos em todo o país, em quase 5.600 municípios. A expectativa para 2012 é que esse número de candidatos aumente. Junto com os candidatos e os consultores políticos vem a demanda por diversos produtos e serviços como impressão gráfica, pesquisa de opinião, softwares de gestão de campanhas, produção de vídeo, produção de áudio, serviços de internet, assessoria jurídica, assessoria contábil, assessoria de imprensa etc. O processo eleitoral do Brasil é um dos maiores do mundo e gera muitas oportunidades de trabalho e renda.
OE - Qual o papel desse profissional na modernização das campanhas eleitorais?
AF – Eu diria que é um papel importante, na medida em que o consultor político debate com o candidato o formato da campanha e as prioridades de investimento. Nossas prioridades são informação, planejamento, gestão, assessoramento e comunicação profissionais. Neste contexto, algumas práticas tradicionais são colocadas em xeque, sobretudo porque representam alto custo, alto risco e eficácia discutível. O processo político está em mudança, a eleição também. Hoje, conforme avança paulatinamente a era da informação e das conexões, há mais exigências e controles por parte das instituições e da sociedade civil. O cidadão-eleitor, armado com a informação, torna-se cada vez mais criterioso.
OE - Como distinguir os profissionais sérios dos que normalmente surgem no mercado em época de campanhas eleitorais, muitas vezes dizendo-se experts em marketing político- eleitoral, e, no entanto, ofertando serviços de qualidade duvidosa à sociedade?
AF – Recomendo que o candidato ou candidata nunca feche a contratação de um profissional num primeiro contato. É importante pesquisar as referências profissionais e comparar diversas propostas, avaliando o nível de conhecimento, maturidade, experiência e confiabilidade de cada profissional. Como se trata de uma área “glamorosa” aos olhos de quem está de fora, tem surgido do dia para a noite muitos “experts”. A formação de um bom profissional requer tempo, estrada e dedicação às vezes sobre-humana ao trabalho, à capacitação e ao estudo multidisciplinar. Um dos papéis centrais da ABCOP é difundir o marketing político, levando informação aos candidatos, partidos, assessores, imprensa e a sociedade em geral, auxiliando a construção de critérios e parâmetros para a atuação dos profissionais de campanhas eleitorais.
OE - O que um candidato a qualquer cargo eletivo não pode fazer durante uma campanha?
AF – Em primeiro lugar o candidato não pode centralizar tudo em si. Campanha pressupõe a existência de uma equipe bem entrosada e com funções bem definidas. Política é um esporte coletivo, não é esporte individual. Outro problema acontece quando uma área técnica da campanha, como a pesquisa de opinião pública ou a propaganda, por exemplo, é entregue a alguém que apesar de toda a boa vontade não tem condições de dar uma resposta satisfatória. Uma terceira questão que deve ser evitada é a ação sem planejamento. Na campanha tudo acontece muito rápido, é “tudo ao mesmo tempo agora” e quem não planejar bem as suas ações pode se perder no meio do caminho.
OE - Quais os principais embates éticos desse profissional?
AF – O profissional de marketing político se depara com situações difíceis, com decisões que a campanha precisa tomar e que passarão por sua orientação. Em todas estas situações eu penso que devem ser seguidos dois princípios: nunca recomendar nada que possa prejudicar ao eleitor e nunca recomendar nada que possa prejudicar ao candidato ou à campanha. Alguns exemplos: o professor Rubens Figueiredo usa o termo “marketismo” para apontar o exagero e a irresponsabilidade em apresentar propostas irrealizáveis com o objetivo exclusivo de conseguir votos. Cabe aos adversários questionarem tais “marketismos” para que no futuro o eleitor não seja prejudicado, pois a proposta não se concretizará. Acabou a fase do plano de governo mirabolante que surge, num toque de mágica, da cabeça do publicitário ou do coordenador de campanha. Outra coisa importante é não querer transformar o candidato em algo que ele não é. Isso irá prejudicá-lo. Quando a máscara cair no meio da campanha a derrota poderá ser irreversível. Marketing não se confunde com propaganda enganosa.
OE - Como se dá a relação entre as estratégias de campanha e o plano de governo do candidato?
AF – Eu falava agora há pouco que o plano de governo não pode surgir em um toque de mágica. Plano de governo é obra dos partidos, do grupo político do candidato, é uma reflexão sobre os problemas e as potencialidades de um município, de um estado, de um país. Em relação a este tema houve um grande avanço a partir da minirreforma eleitoral, aprovada em 2009, que estabeleceu a obrigatoriedade da apresentação do plano de governo para o registro dos candidatos. Para o marketing o plano de governo é fundamental porque ele representa uma das principais linhas de comunicação a serem utilizadas na campanha.
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Fonte: Publicado no Jornal O Estado (CE), edição de 27/05/2012.
(http://www.oestadoce.com.br/noticia/marketing-politico-ferramenta-eleitoral)
